quinta-feira, outubro 30

ASSIM DE RELANCE...

Quando é moda por todo o mundo falar-se em crise, por cá, e no mercado editorial (que se recente extremamente com as crises empresariais, já que assenta a maioria das suas receitas na publicidade) assim de relance, reparei em duas novas publicações: a primeira, uma revista de fotografia que se dirige a fotógrafos profissionais e iniciantes. A segunda, foi um Relance...

Não sendo uma novidade absoluta, a DP é no entanto agora uma revista inteiramente Made In Portugal, e emancipada da sua congénere que lhe dá resguardo, a Digital Photographer.

A segunda, a RELANCE, (assim se chama) engana pelo nome, já que é uma revista que pretende ser “um olhar atento e contemporâneo”.

Comecemos a leitura pelo fim: por de trás da RELANCE, (nome bem escolhido, já que, foi de relance que a revista me atraiu, levando-me, primeiro a desfolhá-la, depois a comprá-la, e finalmente a inspirar-me a escrever estas notas) está um trabalho cuidado no design e no papel em que são impressos os conteúdos.

A RELANCE, pretende abordar temas como Arte, Cultura, Arquitectura e Moda. No entanto, e apesar destas promessas, uma desfolhagem algo distraída (e portanto de relance) revela que uma das áreas editoriais da revista se destaca: a Moda.

No entanto, não tendo eu nada contra o referido destaque, só o realço porque me fez lembrar a saudosa revista K. Sendo que, a bem da verdade, a irreverência não será a mesma, logo, a comparação, neste caso, é não só muito livre, como igualmente de relance...

No entanto, um olhar pela ficha técnica, ajuda-me a compreender um pouco o motivo de tal destaque... O corpo de colaboradores indicado (deveria antes dizer colaboradoras) é composto por 13 mulheres e 9 homens. Ora, se este facto nos dias que correm já não surpreende ninguém, uma vez que está (e ainda bem neste caso) cada vez mais na moda, há que acrescentar igualmente que, não é pelo facto de a revista ser composta maioritariamente por uma redacção feminina, que se torna mais feminina, no sentido “Maria” ou “Nova Gente”.

Não, esta é apenas uma revista inteligente, independentemente de ser realizada por homens ou mulheres. E a prová-lo, só nos nomes femininos mais conhecidos, temos uma Inês de Medeiros e Uma Catarina Portas (na redacção) enquanto que na fotografia, temos uma Inês Gonçalves, sozinha entre homens, mas nada mal acompanhada por Pedro Ferreira, Manuel Correia, Ricardo Quaresma Vieira, e Filipe Pombo.

Mas vejamos o que nos diz a Directora da revista, Diana Barroso: “É Outono, estação de sabores e aromas (...) que nos transportam para outras épocas, para a nossa infância, característicos de um novo ciclo de mudança, de novas tendências, de uma nova estação.

(...)

A Relance nasce neste final de Outubro com o firme propósito de se afirmar como uma revista portuguesa de referência.

Destinada a um público exigente e cosmopolita, apresenta o melhor da arte, da arquitectura, do design, da moda, da cultura e das viagens, entre outros temas.

Celebramos a arte de saber viver, o que de melhor se faz em Portugal e lá fora. (...)

O tempo, precioso, ou a falta dele, marca o nosso compasso.

Com tempo, ou num relance, convidamos a partilharem connosco este entusiasmo, a escutar a conversa tranquila entre Inês de Medeiros e Miguel Lobo Antunes, a ver o lado inesperado e criativo de Rui Moreira [fotografias] e a percorrer os caminhos do seu Porto.

(...)

Um relance, um olhar, breve ou demorado, atento ou distraído – o critério é seu, as propostas são nossas.”

Ora depois de tão poéticas palavras, passemos de relance para a proposta seguinte: a DP.

A DP, é uma revista mais virada para a minha área específica de acção, já que trata exclusivamente de assuntos fotográficos. Nasceu a partir de uma outra revista que já era editada em português, a Digital Photographer, mas, com igual coragem da RELANCE, resolveu nascer numa época de crise.

Esta revista, que só conheci agora (tenho andado a passar de relance pelos quiosques) é uma revista que apresenta um outro registo totalmente diferente. Algo descuidado até, mas nem por isso, menos profissional no que diz respeito à sua qualidade gráfica, sendo que a paginação é cuidada e inteligente, tornando-a de fácil e agradável leitura e, acima de tudo (o que é mais importante para uma revista de fotografia) de agradável visionamento.

Mas o agrado da leitura, não será tanto pela qualidade dos artigos (já que alguns deles deixam um pouco a desejar nesse aspecto) mas pelo modo despretensioso e até humorado, com que os seus responsáveis assumem os seus erros. Quem diz a verdade...

Vejamos igualmente o que nos diz o seu Director, Jorge Pinto Guedes, num Editorial intitulado “Ai estes malucos!”. (Começa bem)...

Depois de nos explicar que o título se refere à imagem da capa (que apresenta uma modelo com as mãos na cabeça, a simular uma grande enxaqueca) , continua: “Queremos ser os melhores por isso porque não dar-mos [darmos está escrito mesmo assim... Já se explica mais à frente] o máximo?

Já que a DP nasceu no mês da Photokina 2008 não quisemos deixar de assinalar o facto dedicando a 1ª edição ao evento. Para isso, e através do convite da Canon Portugal (...) deslocámos um repórter ao local, no intuito de fazer a cobertura da coisa. (...) Resultado: 2 artigos onde se apresenta tudo o que vimos, um já agora e o outro para o mês. (...)

Votos de que se informem, inspirem e possam evoluir sempre com a DP. É também isso que tentamos fazer por cá cada dia que passa, porque eles aqui passam um a um E são fascinantes!”

(...)

“P.S. - Críticas, reclamações, queixas, contribuições, cheques ao portador, donativos, automóveis em bom estado e outras coisas que V. possam passar pela cabeça por favor não deixem de enviar para o meu endereço de e-mail. Prometo resposta a “tutti quanti””

Como se pode ver, principalmente pelo post scriptum, bem teria razão a moça da capa ao chamar de “malucos” os redactores desta revista...

Pela minha parte, também fica prometido que enviarei um e-mail ao Director da DP, o Senhor Jorge Pinto Guedes, não com nenhum cheque nem tampouco com um carro em bom estado, já que, além de não dar muito jeito (não tenho banda assim tão larga) ainda vou precisar do único que tenho, mesmo que já um pouco ultrapassado, por uns tempos mais...

Igualmente não pretendo vir a fazer queixas, embora possa fazer alguma críticas, mas sempre com intenção positiva de dar a minha modesta contribuição para que a DP possa vir a ser, realmente, a melhor revista de fotografia editada em portugal.

É nesse espírito, que pretendo enviar para o e-mail que disponibiliza o referido Director, (jorgeguedes.ip@gmail.com) este pequeno comentário.

Começando, (referindo-me agora à gralha que assinalei logo no início do Editorial) assim que se chega à página 10 da revista, damos logo com um título em grandes letras: “GRALHAS PARA QUE VOS QUERO?” . E no corpo do texto: “Não é caso para nos regozijarmos, mas aqui na redacção, onde somos já conhecidos pelas nossas famosas gralhas, não escondemos alguma satisfação ao recebermos esta notícia. (...)

De aorcdo com uma pequsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremira e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. (...uff...) Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isldoa, mas a plravaa cmoo um tdoo."

A notícia estava escrita mesmo assim, e se há aqui alguma gralha, ela deve-se inteiramente à minha (dolorosa) transcrição. Perante isto, quem consegue criticar as gralhas? Esperemos só que eles as consigam reduzir, sendo que, infelizmente, e mais uma vez, pessoalmente não tenho verba para contribuir para que contratem um revisor de texto... Entretanto, sugiro que se vão servindo dos correctores automáticos...

Mas vamos às críticas: assim de relance, fixei que no artigo sobre a Leica (página 94) são, repetidamente elogiados o sensor, (“56% maior que um full Frame de 35mm”) a construção do corpo e as lentes, mas em lado nenhum é referido algo tão banal como por exemplo a amplitude em ISSO (algumas vezes escrito desta forma noutras páginas) que esse mesmo sensor permite...

No artigo sobre a Photokina, pode ler-se que o repórter ficou muito cansado de lá andar (o que é bastante natural). Lê-se igualmente muita informação interessante sobre alguns equipamentos e novidades, mas nada de aprofundado. E sobre as novidades apresentadas pela Nikon, nem uma palavra (pelo menos, não dei por ela). Será que ficou para a próxima revista? Ou será que, o bilhete da viagem incluía uma pequena clausula?

Não quero especular sobre este assunto, mas uma coisa terá de ser aqui dita em abono da justiça: no Editorial, é referido que a viagem à Photokina foi paga pela Canon. Portanto, qualquer “puxar de brasa” à referida marca, está à partida justificada tal como as gralhas.

Num mundo perfeito não devia ser assim, mas o mundo não é perfeito, e, quer queiramos ou não, mesmo com a coragem de lançar uma publicação num mercado tão pequeno como é o mercado português, ainda por cima, quando há concorrência, e a crise não é apenas uma invenção dos Americanos, é legítimo que, para sobreviverem, os Directores e investidores dessas mesmas publicações tenham de recorrer a alguma criatividade financeira. No entanto, se essa mesma criatividade for assumida (é o caso) o público leitor fica munido de ferramentas para julgar por si próprio.

Mesmo assim, espero que no próximo número, eu possa ver as novidades da Nikon... Embora já não precise.

E agora, as coisas cinzentas: precisamente, assuntos que terão a haver com o cartão cinzento...

Nos artigos técnicos (sobre o sistema de zonas e sobre a fotografia em zonas difíceis), tive o prazer de ler algumas das mais suaves e compreensíveis explicações sobre essas matérias. Explicações essas, sempre difíceis, principalmente quando não se pode dar exemplos práticos. E nesse aspecto, esta revista está ao nível das melhores que tenho visto do género.

Por isso, finalizo este comentário com um excerto da mesma frase (corrigindo a gralha) com que o seu Director a iniciou: “(...) porque não darmos o máximo?”.

Relativamente às duas publicações aqui comentadas: aguardo pelo prazer de ler os números seguintes. E não apenas de relance.


João Paulo Barrinha



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