Vivemos num mundo tecnológico. Devido a essa tecnologia , podemo-nos hoje deslocar grandes distâncias sem um esforço sequer comparável ao despendido pelos nossos antepassados. Podemos até, sem nos deslocarmos, ter conhecimento do que se passa do outro lado do planeta.
A tecnologia multiplica exponencialmente a nossa força física, o nosso poder de cálculo e, consequentemente, a nossa consciência acerca de nós mesmos e do mundo que nos rodeia. Mas, tal como uma droga, a tecnologia também cobra o seu preço, o preço da dependência.
Só para dar um exemplo, os actuais “aparelhos de telefonar” tornaram-se gadjets ultra-sofisticados: servem para tirar fotografias e navegar na net, ao mesmo tempo que dão as horas, servem de agenda, executam cálculos, dão música, jogos e... entre inúmeras outras coisas, até servem para telefonar. São autênticos computadores portáteis, com tudo em um. E nós? O que fazemos com tudo isso?
Esta questão coloca-se sempre que surge no mercado um novo gadjet tecnológico. Será essa tecnologia, absolutamente inútil para a maioria dos seus utilizadores?
Por outro lado, a mesma questão que inquieta hoje em dia alguns de nós, é afinal de contas milenar. Sempre que algo de novo surge, a questão é colocada. Será então a própria questão inútil?
Esta mesma dupla inutilidade foi primeiramente explorada na arte pelo movimento DADA, seguido pelo movimento surrealista. Alguns dos artistas que aderiram a estes dois movimentos estéticos (movimentos surgidos entre os anos 10 e 20 do século passado) exploraram o absurdo, criando objectos de utilidade nula assim como máquinas que nada produziam. Exemplo de um desses objectos, é a peça “CADEAU”, de MAN RAY peça na qual estas IMAGENS se inspiram.
As IMAGENS pretendem assim, constituir uma crítica humorada a todo o excesso de tecnologia inútil que nos rodeia, constituindo ao mesmo tempo, e numa outra camada, uma reflexão sobre a utilidade dessa mesma crítica: uma vez que ela mesma é absurda...
Para dar “credibilidade” à referida tecnologia, foi criada uma marca comercial: a marca INOUTIL, que resulta da aglutinação do prefixo IN (no sentido de sofisticado) com a palavra OUTIL, que em francês significa ferramenta. Assim, ao mesmo tempo que a marca pretensamente transmite a ideia de ferramenta sofisticada, estabelece-se desde logo um trocadilho onde emerge imediatamente a palavra INÚTIL.
Numa outra leitura, e relativamente a um dos objectos criados, há ainda uma crítica implícita a uma certa (e persistente) forma de discriminação social.
Essa será, talvez, a camada de leitura mais subtil deste conceito, não sendo por isso aqui revelada. A sua consciencialização é bem mais interessante...
João Paulo Barrinha
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